segunda-feira, 30 de abril de 2018

Dar Música ao “Caracol” do Ouvido com “Headphones”... Cuidado com o Volume!


Nos tempos modernos, somos confrontados com uma preocupação crescente a nível mundial: mais de 1 bilião de crianças e jovens estão em risco de diminuição da audição, por exposição recreativa a níveis inseguros de ruído, tais como o verificado em discotecas, cinemas, concertos de música, eventos desportivos, ginásios, brinquedos, leitores de música, videojogos, entre outros.

A Organização Mundial de Saúde, destaca que metade (50%) dos adolescentes e adultos jovens (12-35 anos de idade) estão expostos a níveis de volume sonoro perigosos, na utilização de equipamentos áudio pessoais.

Na realidade o número de utilizadores de auscultadores tem aumentado significativamente. Na União Europeia, a venda de equipamentos áudio pessoais, aumentou de 184 para 246 milhões de unidades, entre 2004 e 2007, respetivamente (apenas 3 anos). Entretanto, os leitores de música, têm sido substituídos por “smartphones”, que representavam 470 milhões de unidades, em 2011.

Neste momento do texto, vale a pena questionarmo-nos: como são utilizados estes equipamentos áudio pessoais? Onde se esconde o perigo para a saúde? O que pode cada ouvinte (neste caso leitor) fazer para se proteger, ao mesmo tempo que ouve as suas músicas favoritas?

Um estudo realizado em Nova Iorque concluiu que diariamente, 36% dos jovens ouvem música com auscultadores, 16% ouvem a música com som elevado (nível acima de metade do volume máximo definido pelo equipamento), sendo que estes jovens apresentavam uma probabilidade superior de referirem acufenos (“apitos”) nos ouvidos, que resultam de um “cansaço” do aparelho auditivo.

O nosso aparelho auditivo (ouvido externo, médio e interno) está preparado para processar níveis moderados de som. Os níveis considerados de risco a que cada um de nós se expõe, são influenciados pela intensidade (volume) do som, pelo período (tempo) de exposição e pela distância à fonte sonora; que por sua vez acabam por determinar a gravidade da lesão auditiva. Vale a pena pensarmos que com os auscultadores temos a dita fonte sonora praticamente, senão mesmo, dentro dos nossos ouvidos!

No nosso ouvido interno, temos um “caracol” chamado cóclea, que contém um número fixo de células sensoriais (entre 15 a 20 mil) com as quais nascemos, e que uma vez estragadas, não se recuperam. A exposição continuada e acumulada no tempo, a níveis elevados de ruído, provoca a destruição das referidas células, conduzindo a uma diminuição da audição.

Para medirmos a intensidade do som temos uma unidade, chamada Décibel (dB). O valor limite de exposição diária considerada segura é de 85 dB durante um período de 8 horas seguidas. Eis que se nos surgem, algumas “dores de cabeça”, quando alguns dos equipamentos áudio pessoais apresentam níveis médios de volume máximo de 106 dB, o que significa que o limite de tempo de exposição seguro (a partir do qual existirá lesão no ouvido) seria de 4 minutos. Estudos revelam, efetivamente que 14 a 30% destes utilizadores estão em risco de lesão e consequente diminuição da audição.

Para continuarmos a desfrutar das nossas músicas favoritas, mas desta vez em segurança, podemos: 

usar auscultadores que bloqueiam o som ambiente (desta forma não necessitamos de colocar o volume tão alto; mas devemos ter cuidado com estes sistemas uma vez que acabam por limitar a perceção que temos do espaço e ambiente que nos rodeia, podendo por em causa a nossa segurança - ex.: enquanto peões); 

- usar os auscultadores apenas uma hora por dia

- o volume utilizado não ultrapassar 60% do volume máximo do equipamento

- realizar intervalos (pausas) regulares; 

- usar os auscultadores nos dois ouvidos e não apenas num (evita-se sobrecarregar apenas um ouvido, em que o utilizador sentiria a necessidade de colocar o volume mais alto).

Os comportamentos de risco na exposição ao ruído têm um efeito cumulativo e irreversível na diminuição da audição (hipoacusia), no entanto esta é 100% prevenível. 

Para amanhã, todos nós continuarmos, a ouvir as nossas músicas favoritas, vamos diminuir o seu volume hoje.


(Adaptado de Dangerous Decibels® - www.dangerousdecibels.org)


Dr. Ricardo Eufrásio - Delegado de Saúde

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