sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O período pós-parto, as mudanças físicas e fisiológicas na mulher

 
Na mulher, o período pós-parto é um processo bem definido, limitado no tempo e ligado à reprodução.  Este vai desde a expulsão da placenta até 6 semanas após o parto, no qual ocorre uma regressão das alterações anatómicas e fisiológicas da gravidez, resultando de uma diminuição dos níveis hormonais, os estrogénios e a progesterona.


As Mudanças Físicas

 

Fisicamente, as mamas que inicialmente se apresentam moles e indolores vão aumentado progressivamente de volume segregando o colostro que será o primeiro leite do bebé até a produção definitiva do leite maduro, no 4º dia após o parto. Quanto maior for a estimulação mamária (sução exercida pelo recém-nascido, por exemplo), maior será a produção de leite pelo efeito de uma hormona, a oxitocina.


Enquanto o útero começa a voltar ao tamanho normal (involução uterina) imediatamente após o parto, ocorre a eliminação de secreções uterinas e vaginais (os lóquios). Nos primeiros dias, o sangue é vermelho com fluxo intenso, podendo ser confundido com a menstruação. À medida que o fluxo diminui, o sangue fica mais claro (rosado), até amarelar ou esbranquiçar. Esta involução uterina faz-se essencialmente à custa da contração das fibras musculares que são muitas vezes sentidas pela mulher com dor, principalmente nas multíparas.

 

O colo uterino que encerra progressivamente durante o puerpério, modifica-se e aquando da observação ginecológica, deixa de ser punctiforme e adquire o aspeto de fenda transversal.

A vagina regressa ao seu estado habitual por volta da 3ª semana, no entanto a produção do seu muco só aparece mais tarde, sobretudo na mulher que amamenta.

No Parto Vaginal


No caso de parto vaginal, pode surgir uma incontinência urinária (perda involuntária de urina) nos primeiros 3 meses que será transitória, devido à pouca força muscular da bexiga, pelo que se aconselha a realização de contração e descontração dos músculos de períneo (exercícios de kegel) para estimular a tonicidade muscular.

 

O funcionamento intestinal normaliza ao fim de uma a duas semanas. É frequente ocorrer obstipação devido ao medo da dor perineal, sobretudo se existe uma episiotomia (corte feito para ajudar a saída do bebé) ou por presença de hemorroidas. Estas podem aparecer durante a gravidez ou resultam dos esforços expulsivos durante o parto.

 

Nas Cesarianas


Nas cesarianas, a recuperação física é mais dolorosa e prolongada que nos partos vaginais. É muito frequente apresentar algum desconforto abdominal e dor na zona da sutura. 



Esta, cicatriza habitualmente numa semana e costuma ficar avermelhada durante alguns meses, tornando-se mais clara ao fim de 6 meses a 1 ano, dependendo do tipo de pele e genética que tem.


Enquanto a gravidez é vivida no quadro de um certo bem-estar psicológico, no pós-parto associa-se geralmente uma diminuição deste estado na mulher. Esta circunstância decorre do facto de a mulher ter de se adaptar a todo um conjunto de mudanças: biológicas (já referidas); psicológicas, conjugais e familiares.

A nível psicológico opera-se um elevado número de mudanças na sequência do nascimento de um bebé sobretudo no que se refere à autonomia e à identidade pessoal da mulher. Ela deixa de ser única passando a ter ao seu cargo um bebé a tempo inteiro, sobretudo se amamenta. Daí que muitas mulheres não querem amamentar ou desistem da amamentação rapidamente no puerpério.  Ainda adquire um papel central, o de mãe, abdicando das suas necessidades de mulher e de ser individual para papeis secundários. Querer ter um filho não significa estar preparada para ser mãe.

A nível conjugal é igualmente possível identificar todo um conjunto de alterações que têm essencialmente a ver com o desempenho de um novo papel, o papel parental que deverá ser conciliado com o pai da criança, para isso, o casal tem que reajustar a sua relação, no plano afetivo, de rotina diária e de relacionamento sexual, o que pode gerar stress.

Assim se qualquer destas adaptações biológicas, psicológicas, conjugais e familiares não forem bem-sucedidas, este período pós-parto constitui um elevado risco para a saúde mental da mulher podendo surgir um “baby blues”, uma psicose ou uma depressão.


BIBLIOGRAFIA:

CANAVARRO, M.- C., 2ª Ed. (2006), Psicologia da gravidez e da Maternidade, Coimbra: Publidise.

GRAÇA, L.-M.,3ª Ed. (2005), Medicina materno-fetal, Lisboa: Lidel.

 LEAL, I., (2005), Da gravidez e da parentalidade, Lisboa: Fim de século – edições.


Ana Carreira Batista, Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia, Ucspágueda II

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