Adolescentes e jovens, a
maior parte do vosso dia é passado na escola, logo as ações de promoção da
saúde mental e de educação para a saúde mental devem ser realizadas o mais
possível nesse contexto. Estas ações têm demonstrado ser eficazes quando são
ancoradas no pilar que é a literacia em saúde mental. Na vossa faixa etária, o reduzido nível de literacia em saúde mental é responsável pela perpetuação do
estigma, agravamento dos sintomas, adiamento da procura de ajuda profissional,
agravado ainda mais nos adolescentes e jovens com reduzido nível de interação
com o sistema de saúde.
Como sabes, o conceito de literacia em saúde advém de um conceito mais limitado de literacia, que em língua portuguesa, é a capacidade de ler e escrever. Este conceito tem sido aplicado em diversas áreas e é veiculado pela comunicação social quando se refere ao conhecimento sobre diferentes matérias.
Mas, não é do teu
conhecimento que a expressão “literacia em saúde” foi utilizada pela
primeira vez por Scott Simonds, em 1974, descrevendo este conceito associado à
educação para a saúde, não
estando ligado ao nível de habilitação literária de cada um. Mais
tarde, na década de 90 do século XX, o governo da Austrália veio definir
objetivos de saúde utilizando o conceito de literacia em saúde da sua
população, ou seja, promover a saúde e educar a população para a saúde, para
que esta pudesse tomar as decisões mais adequadas a este nível.
Ao melhorarmos o
acesso dos indivíduos/adolescentes à informação sobre saúde, e a sua capacidade
para a usar de forma eficaz, conseguimos capacitar as populações para agir em
prol da sua saúde e da saúde das suas comunidades.
O aumento da literacia em
saúde mental não vai apenas facilitar a adoção de estilos e condições de vida
saudáveis, mas também permitir o correto uso dos serviços de saúde e a adesão a
regimes terapêuticos prescritos.
No primeiro nível, o
funcional, o indivíduo tem competências suficientes para ler
e escrever, conseguindo funcionar eficazmente no seu dia-a-dia. Neste primeiro
nível, o indivíduo conseguirá ler informação escrita (ex.: rótulos de
medicamentos), perceber a informação que lhe é dada pelo profissional de saúde
e seguir indicações terapêuticas. Estas ações resultam no benefício individual.
No nível interativo, o indivíduo tem aptidões cognitivas
e de literacia mais avançadas que são utilizadas para participar nas atividades
do dia-a-dia, extraindo e aplicando nova informação. O indivíduo poderá agir
autonomamente com base no conhecimento que adquiriu, mas os benefícios
continuarão a resultar em benefícios individuais.
O terceiro nível
(critico)
engloba as competências cognitivas mais avançadas que, em conjunto com as aptidões sociais,
serão aplicadas para analisar de forma crítica a informação, podendo esta ser
utilizada para exercer maior controlo sobre os acontecimentos e situações da
vida. A literacia em saúde crítica trará benefícios ao nível comunitário, uma
vez que tem como objetivo a facilitação do desenvolvimento comunitário,
permitindo ao indivíduo não só agir a nível individual, como também
comunitário.
Nestes três níveis de
literacia em saúde, o indivíduo está num crescendo, numa progressiva autonomia. No primeiro nível tem um
desempenho passivo, no segundo nível um desempenho ativo
e no terceiro nível um desempenho pró-ativo.
O aumento da literacia em saúde tem o potencial de influenciar não só os indivíduos, mas também a sua comunidade. Capacitar os indivíduos para alteração dos comportamentos, no que concerne à sua saúde mental, originando melhores resultados em saúde.
A literacia em saúde mental, dentro do conceito mais
amplo de literacia em saúde, merece ser considerada, devido à elevada
prevalência das perturbações mentais, estimando a OMS (2001) que 10 a 20% das
pessoas sofra de pelo menos uma doença mental, ao longo da sua vida.
O conceito de literacia em saúde
mental como os conhecimentos e crenças acerca das perturbações mentais que
ajudam no seu reconhecimento, gestão e prevenção. Os componentes dentro do conceito
de literacia em saúde mental, são:
Ø A capacidade de reconhecer
perturbações específicas ou diferentes tipos de sofrimento psicológico;
Ø Conhecimentos e crenças sobre fatores de risco
e causas;
Ø Conhecimentos e crenças sobre
intervenções de autoajuda;
Ø Conhecimentos e crenças sobre ajuda
profissional disponível;
Ø Atitudes que facilitam o reconhecimento e a
procura de ajuda apropriada;
Ø Conhecimentos sobre como procurar informação sobre saúde mental.
Depreende-se que uma
literacia em saúde mental reduzida irá não só impedir o reconhecimento precoce
das perturbações mentais como a depressão, bulimia nervosa, ansiedade
generalizada, stress, consumo de substâncias psicoativas (como álcool, tabaco e
outras drogas), influenciar o comportamento de procura de ajuda e o acesso aos
tratamentos profissionais mais adequados, como também perpetuar o estigma face
aos doentes mentais.
A educação para a saúde
na escola assume especial relevância dado que é na fase da infância e, particularmente,
da adolescência que os indivíduos adquirem os comportamentos de saúde que se
prolongam para a vida adulta.
A comunicação em saúde é
um dos atributos intrínsecos à literacia em saúde. Esta comunicação não é
apenas a comunicação estabelecida entre o paciente e o profissional de saúde,
podendo assumir várias formas, como a televisão ou a internet. As novas
tecnologias assumem um papel importante na divulgação de informação, também em
saúde.
A
escola é assim um local privilegiado para a realização de sessões de educação
para a saúde, uma vez que é o local onde vós adolescentes e jovens passam a
maior parte do dia.
Os programas
educativos devem incorporar a educação e promoção da saúde mental, como forma de educar não só em saber, mas também em valores e em
formação cívica, difundindo a aquisição de competências e o aprender ao
longo da vida, promovendo a autonomia do indivíduo.
A redução das atitudes
estigmatizantes,
embora seja um objetivo presente na maioria dos estudos que visam o incremento
da literacia em saúde mental, é difícil de alcançar uma vez que os jovens são
influenciados também pelas suas experiências
pessoais, atitudes familiares, campanhas de sensibilização a que são expostos e
familiaridade com pessoas com doença mental.
A
literacia em saúde mental quer seja de cariz individual ou universal, através
da internet (blog, noticias, podcast ou outras fontes de informação) bem como de
sessões práticas na comunidade escolar ajuda a reduzir o estigma,
aumenta o conhecimento e promove atitudes mais positivas.
BIBLIOGRAFIA:
Almeida, T. P. P. de.
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Loureiro, L. M. (2016).
Literacia em saúde mental acerca da depressão e abuso de álcool de adolescentes
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Pedreiro, A. (2013). Literacia
em Saúde Mental de Adolescentes e Jovens sobre Depressão e Abuso de Álcool.
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