As problemáticas na área da saúde
mental têm vindo a ser cada vez mais frequentes e mais perturbadoras do
dia-a-dia, tanto individualmente como em grupo (família, equipa, sociedade). Há
uma fase do desenvolvimento particularmente vulnerável a estas problemáticas: a
adolescência (por definição, “tornar-se adulto”). Por si só, uma fase de
instabilidade, de mudança… uma crise! Sim, uma crise! Mas uma crise desejável!
Não há outra forma (saudável!!)
de ultrapassar a confusão de identidade própria desta altura. Por paradoxal que
pareça, se não existir crise (se o adolescente aparentar híper adaptabilidade
nas diferentes áreas da sua vida, correspondendo sempre ao esperado), poderá
ser sinal de alerta e de que algo não está a decorrer da forma mais saudável
(mentalmente).
Não quer isto dizer que a
adolescência é um problema!!
Crise ≠
Problema
É sim a procura de várias
soluções. Uma fase que se supõe criativa, de forma a explorar respostas
variadas a cada novo desafio, em vez de dar sempre a mesma resposta a todas as
situações novas.
Perguntas como “quem sou?”, “para
onde vou?”, “como vai ser a minha vida?”, “a que grupo pertenço?”, “com quem me
identifico?”, “em que valores acredito?”
Perante um turbilhão de informações, de dúvidas, de
alterações físicas, de mudanças constantes da percepção do mundo o adolescente
vai oscilando entre inquietação, incerteza, confusão, excitação, inibição,
fascínio pela descoberta, criatividade, curiosidade, apelo à exploração, impulso
para comportamentos de risco dos quais tantas vezes não sabem as consequências… há muitas vezes simultaneamente
uma sensação “mágica” de controlo sobre todas as coisas, que faz parte do
desafio de conhecer o mundo e da omnipotência para dominar.
Para um adolescente, pode ser difícil continuar a sentir-se
o mesmo ao longo das sucessivas mudanças fisiológicas e psíquicas que ocorrem
na sua vida.
Sociedade versus Saciedade
Se a sociedade, mais madura,
reconhece estas características da adolescência, tem responsabilidade e o dever
de se disponibilizar para proporcionar uma crise com o mínimo de danos
possível. Promover formas de saciar a curiosidade, diminuir os factores de
risco e aumentar os factores protectores de um desenvolvimento mental saudável.
Claro que estas categorias estão
interligadas e constituem uma constelação de factores, características
pessoais, familiares, culturais, legais, etc, etc…
Neste sentido, promovendo a
saciedade acerca da saúde mental, fica uma sugestão de pesquisa: literacia em
saúde mental (como forma de estimulação cognitiva).
Sabendo que há ampla divulgação
dos factores de risco, e numa perspectiva de promoção positiva, estas são
algumas propostas para viver esta crise:
Boa autoestima (identificar
características positivas de si)
Capacidade de lidar com stress
(treinar situações que sejam tidas como stressantes)
Prática de exercício físico (que
seja prazeroso, mais do que uma vez por semana)
Hábitos de sono (descobrir qual o
número mínimo de horas tem de dormir para acordar sem sono)
Tolerância (perante um dilema
cultural, ético, desportivo ou familiar, tentar colocar-se “nos sapatos” do
outro e procurar uma resposta a esse dilema, quer “nos seus sapatos” quer “nos
sapatos do outro”)
Estimulação cognitiva (um caderno
personalizado onde escrever descobertas, curiosidades, novos conhecimentos)
Alimentação variada (cozinhar e
provar uma novidade gastronómica saudável, pelo menos uma vez por semana)
Ocupação de tempos livres (ocupar
é diferente de preencher todos os tempos!!... e se são livres… são um chamariz
ao lado criativo!!.. não fazer nada é importante… e experimentar ocupações
novas também. Que tal explorar uma actividade desconhecida por mês?)
Confidente (alguém de confiança a
quem se pode recorrer para partilhar qualquer assunto; nem sempre é o melhor
amigo)
Grupos de pertença (são conjuntos
de pessoas com quem partilhar ideais, gostos, actividades culturais, desporto…
pertencer a mais do que um!!)
Reforçando a ideia da
responsabilidade da sociedade perante a necessidade de saciedade do
adolescente, há que dar suporte às redes de pares, às redes familiares e às
redes socias, de modo a que se constituam como incubadoras, facilitadoras quer
da percepção de limites quer do encorajamento para alargar horizontes.
De modo a proporcionar o
desenvolvimento da autonomia e da identidade, o adolescente, beneficia de um
ambiente familiar que promova e valorize as suas escolhas e o autocontrolo, em
vez de um ambiente conformista e que obrigue à obediência da autoridade.
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